DILEMA

https://youtu.be/K_sAgzRbMu4

domingo, 25 de setembro de 2011

A FEBRE DO OURO

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 Do meu recente livro de ficção extraterrestre
(...) Por esse tempo, na Terra, construíam-se os primitivos observatórios providos de óculos capazes de ver para além do que é possível ver de humana vista. Galileu desvelara os primeiros segredos de Júpiter e seus satélites. Inspirado em Platão e Pitágoras, o matemático Kepler deduzira que Deus era um confrade, um geómetra!, e Tycho Brahé, de tanto olhar, compreendeu ser o Espaço mais fundo que a lonjura do pensamento humano e do seu sonho. As estrelas e as constelações, o Sete-Estrelo, a que os maias chamavam Tzab (a cobra-de-assobio), Perseu e Hércules, Aldebaran, o olho do toiro dos árabes, e até planetas, como a bela, lasciva Vénus dos latinos, tomada por um deus-mau... no Yucatan, ou o sombrio Saturno – só para citar uns poucos da ninhada – iam perdendo o lustro de criaturas divinas que se entretinham, no seu devaneio ou solidão, a lançar deleites ou maldições, sobre a Terra.

O homem cansava-se da destemperança dos deuses, do seu fútil jogo de marionetas. E, de tudo o mais, quanto se podia ver e perceber, e de todo o entendimento do que era para ser entendido, o nosso Sol igualmente se reduzia à condição de mera bola de fogo, como o velho sábio jónico antevira, um milhar de anos antes (o que, aliás, lhe valeu ter sido desterrado, pelos insaciáveis senhores do trono!)
E assim, todos estes sóis regionais – estes deuses de fogo que ardem em cinzas a nossa passagem breve –, o querido e formosíssimo Ahura-Mazda das minhas raízes indo-europeias, o Kinich-Ahau, dos maias, o sumério Shamash, cujos seguidores o julgavam dormir nas profundezas do Norte, esse esplendoroso e esbelto Amaterasu, brilhando em céus de púrpura e jade, a Oriente, ou o deus dos aztecas – este, um disco redondo, em oiro maciço... de uma braça de diâmetro! –, tinham, finalmente, sido relegados para os domínios do mito.
Inexoravelmente.
Mas estava-se ainda longe de pensar em viajar para as estrelas.
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pág 10

2 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Vou ter que reclamar para a Sociedade Portuguesa de Autores (se é assim que ainda se designa), então os livros estão a ser divulgados na Internet?
E quem paga impostos (quando não consegue fugir) e quem comprou o livro sente-se defraudado.
É o meu caso... (rsrsrs)
Não vou fazer queixa á polícia porque podem consultar a minha ficha e fico lá de saco, rsss, rsss, rsss.
Um bom resto de semana e um abração do destabilizador.

vieira calado disse...

Amigo Xistosa:

Quando se serve um bom prato...
primeiro vêm os aperitivos...

Abração